Poema em resposta à pergunta de @anafrancotti
Páginas –
colunas pétreas
ao tentar virar
Capa –
sonolência insone
ao tentar ouvir
Guarda —
porta emperrada
ao tentar abrir
Lombada —
perna que mal dobra
ao tentar subir
Partes veladas de um livro
que em coro, exige tanto quanto seu segredo:
deixa de venerar distantes astros vagabundos
e os faz descer para terra firme –
se queres fazer parte do sublime
não te esquiva do poder do crime!
22 agosto 2020
Todas as manhãs Charlote bebia água morna
e vestia apenas um casaco
de penas de avestruz
no calor ela não usava nada por baixo
e no frio ele a esquentava bem
Ainda de manhã ela assistia
pela janela as flores
se inclinando sob o vento
e desejava que seu corpo
fosse ou soubesse fazer
umas curvas daquelas também
O que ela mais gostava –
era do vento tocando seu corpo
sem encostar nele
Quando ela vê os dois –
flor e vento dançando –
tinha certeza de que nunca
havia amado alguém
Ela não conseguia acreditar
em nada que levasse…
“Moro sozinha” era o que ela falava,
Porém, com sombras seu apartamento dividia
As quais, descaradamente, ignorava
“Elas não têm nada a ver comigo”, dizia
Sem querer, se misturava a elas
E numa escuridão sem fim –
Não só quando anoitecia
Mas também antes e depois
Sempre cansada, mesmo quando dormia
Durante alguns meses — de terror
Foi obrigada por forças maiores
a conviver com esses seres escuros
que habitavam de dia
o fundo de seus armários –
o fundo de seus olhos
Na contramão do vazio
deixado em seu país
Maria sabe agora o que é ter companhia
E…
A necessidade da solidão revela
sempre a nossa espiritualidade.
Kierkegaard, O desespero humano, pg. 86
Não há homem com a consciência pesada
que consiga suportar o silêncio.
Kierkegaard, O conceito de angústia, pg. 136
Um das coisas mais difíceis que tenho ouvido e também sentido a respeito da quarentena é a solidão compulsória. A dificuldade de se estar num cômodo sozinho, de se encarar como uma companhia. Por que esse medo nos assola, tanto ou até mais do que o medo de ficar sem coisas materiais, como comida ou dinheiro (ou mesmo por projetarmos este medo na possível perda de…
Abelardo,
[…] o que tem a elasticidade da eternidade conserva-a através de todos os tempos sempre inalterada.
Kierkegaard, As obras do amor, pg. 43
No começo da noite, depois de uma conversa de mais de uma hora que parece desafiar não só o tempo mas o nosso fracasso em nos abandonarmos, permaneço numa hesitação entre começar a escrever e deixar de escrever para sempre — entre querer abrir a porta dos leões e lutar com eles e vê-los dançar ou a ligar a televisão e esquecer que um dia já existi. Não sei o que é esse estado febril que…
The urgency that drives you, that propels you into the studio every day, should be the desire to see figures as yet unrealized. If this is where your heart is, integrity will not be an issue.
Kerry James Marshall, Letter to a young artist, 2006
– Why study? Why write? Why doing things that, normally, someone wouldn’t do just to survive? Why invent new habits?
– To enlarge what we understand for life.
– Why should I enlarge what I understand for life?
– To enlarge what we understand for life doesn’t mean to understand more about life; that would…
“I’m in a bad way”, “I’ve got a headache”, “I’m out of money” — all of these and a multitude of utterances like these are an undeniable truth for the vast majority all the time. At the first opportunity, they would say how hurt they are.
So, what’s the using repeating them, if knowing that they are true and by saying them, it won’t change anything? By repeating these sentences, we don’t just repeat them verbally, but, worse than that, we repeat the posture and ferocity of its destruction, engendering nothing: there’s no life being created. …
Tema
O poema narra a jornada do eu-lírico em busca de si mesmo, em busca de explicações para sua vida. O poema começa com uma imagem dele andando sozinho (palmilhar é o mesmo que andar a pé) por uma estrada cheia de pedras, ou seja, um caminho muito difícil de trilhar que é o desta jornada interior. O poema começa com a conjunção aditiva “e”, porém não há nada antes, o que indica que o poema começa no meio desta jornada. …
“Estou mal”, “estou com dor de cabeça”, “estou sem dinheiro” – todas essas e mais uma infinidade de afirmações como essas são uma verdade inegável para a grande maioria de pessoas o tempo todo. Na primeira oportunidade, elas te diriam o quanto estão feridas.
Então, qual é a graça de repeti-las, sabendo que são verdade e dizê-las não irá mudar nada? Ao se repetir estas frases, não só se repete-as verbalmente, mas, pior, repete-se a postura e a ferocidade de sua destruição, não se engendrando absolutamente nada: não há vida alguma sendo criada. …
Bem vindo ao Planner da Vernacular! Este planner é uma mistura de planner e Bullet Journal. Ele é semestral.
Ele começa com as seguintes seções anuais:
Depois, em todo mês, se repetem as seguintes seções:
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